Salão de festas, playground e poucas vagas: as tendências dos novos lançamentos imobiliários
em Estadão Imóveis, 9/abril
Quase 30% dos edifícios lançados em 2024 não tinham vaga de estacionamento.
Do chá de casa nova ao chá de revelação do bebê, o brasileiro adora uma festa. E este clichê também marca o mercado imobiliário. Dados da Brain Inteligência Estratégica mostram que o salão de festas foi o item mais comum nos prédios lançados no Brasil em 2024. O espaço esteve presente em 89% dos lançamentos no País.
Considerando apenas o segmento econômico, voltado para o Minha Casa, Minha Vida, o salão de festas fez parte de 95% dos lançamentos, enquanto esteve presente em 88% dos prédios de alto padrão.
“O salão de festas e o espaço gourmet estão presentes na maioria dos lançamentos por diversos motivos. O primeiro deles é a tradição”, argumenta Fabio Tadeu Araujo, CEO da Brain. “Esses espaços são os itens de lazer mais antigos nos projetos imobiliários, seja em empreendimentos verticais ou horizontais, condomínios fechados ou prédios. Já fazem parte da cultura dos lançamentos”, adiciona.
No entanto, existe uma outra justificativa para a popularização destas áreas de lazer: os apartamentos são pequenos. Receber visitas é um desafio, o que estimula a demanda por áreas comuns de convivência que vão desde o salão de festas ao espaço pizza.
“Já nos empreendimentos de alto padrão, esses espaços contribuem para a sofisticação do projeto — pelo tamanho, pelo pé-direito elevado, pela qualidade dos móveis e da decoração”, explica Araujo. “Assim, mesmo que sejam menos utilizados, ajudam na percepção de nobreza do empreendimento e, portanto, são considerados essenciais”.
Diferenças entre alto padrão e segmento econômico
Em segundo lugar na lista de itens mais comuns nos prédios brasileiros aparece a academia. Não é de se estranhar que na era do fitness e da vida saudável, o espaço estivesse à frente até do playground e da piscina. Dados da Brain mostram, porém, que existem diferenças marcantes entre prédios econômicos e de alto padrão nestas demandas.
Enquanto 95% dos empreendimentos de alto padrão contam com academia de ginástica, o número cai para 71% no MCMV. Da mesma forma, a porcentagem de prédios com piscina no alto padrão é de 90%, já no segmento econômico é de 68%.
“Esses itens aparecem com mais frequência nos empreendimentos de alto padrão principalmente por motivos econômicos. A piscina, por exemplo, é muito cara de construir e manter, e por isso só aparece em projetos econômicos quando o número de unidades é grande — 400, 500 ou até 600 apartamentos — pois é possível diluir o custo”, justifica Araujo.
Por outro lado, explica o executivo, nos projetos de alto padrão, mesmo com 15 ou 25 unidades, a piscina ajuda a agregar valor ao imóvel. O espaço gourmet também segue neste caminho. No alto padrão, 68% dos prédios possuem, no segmento econômico o número é de 42%.
Brinquedoteca também é mais comum em prédios de alto padrão (70%) do que em empreendimentos enquadrados no MCMV (50%).
Em contrapartida, o bicicletário está presente em 60% dos prédios enquadrados no MCMV e em apenas 30% dos edifícios de alto padrão. O playground também é mais comum nestes empreendimentos, com 85% deles recebendo a comodidade, ao passo que no alto padrão o número cai para 71%.
“No caso do bicicletário, há dois principais fatores: os moradores de empreendimentos populares usam mais a bicicleta, tanto para lazer quanto como meio de transporte”, enumera. “O segundo é o tamanho dos apartamentos, geralmente mais compactos, o que impossibilita de guardar uma bicicleta dentro da unidade”.
Já o playground, ele argumenta, é mais barato. Por isso, é mais viável ser incluído em projetos econômicos.
Dos empreendimentos lançados em 2024 no mercado MCMV:
- 95% contavam com salão de festas
- 85% contavam com playground
- 71% contavam com fitness center/academia
- 69% contavam com pet place
- 68% contavam com piscina
Vagas de garagem
O estudo da Brain também chama a atenção para o número de apartamentos voltados a pessoas sem carro. De acordo com o levantamento, 28% dos imóveis lançados em 2024 não tinham vaga de garagem.
Apesar disso, ainda é mais comum os compradores de imóveis terem direito a até duas vagas. Segundo o levantamento, cerca de 48% dos lançamentos em 2024 disponibilizavam uma vaga aos compradores e 15% disponibilizavam duas.
“O número de empreendimentos sem vaga de garagem vem aumentando. Isso ocorre por causa de uma mudança no comportamento do consumidor, que hoje aceita mais facilmente a ausência de vaga de garagem, especialmente em apartamentos compactos, como estúdios e unidades de um dormitório”, inicia Araujo.
O executivo acrescenta que a ausência de vagas também é baseada em mudanças nas legislações urbanas, especialmente nos planos diretores municipais, que passaram a permitir maior flexibilidade na quantidade de vagas exigidas por empreendimento. “Isso abriu espaço para que as incorporadoras reduzissem o número de vagas e atendessem a essa nova demanda”.
Desta forma, enquanto cidades como São Paulo e Fortaleza têm muitos empreendimentos de dois dormitórios sem garagem, Curitiba ainda mantém uma maior oferta de vagas. “Assim, a ausência de vagas de garagem reflete uma interseção entre comportamento do consumidor, legislação urbana e estratégia de mercado”, finaliza.
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